quinta-feira, 21 de maio de 2009


A pichação é uma ação de transgressão para marcar presença, chamar atenção para si por meio da subversão do suporte. Muitas vezes o nome pichado é repetido como uma espécie de carimbo pela cidade. A pichação não configura gesto estético obrigatório - em relação à forma e conteúdo - embora possa ocorrer.O pichador tem a estética como valor secundário, há um privilégio pela palavra (tipografia), no caso de desenhos ou ilustrações, eles costumam ser muito simples, próximos de símbolos. Na colorização da mensagem utiliza-se pouca cor, na maioria dos casos só uma cor. Os suportes para a pichação nunca são autorizados ou cedidos, são sempre tomados de assalto, ao contrário do grafite, não existe preferência por superfícies maltratadas e sim por superfícies novas ou onde já existam pichações no lugar. Portanto, os suportes são os mais variados possíveis, dos topos dos prédios a monumentos, museus, inclusive espaços da cidade onde o suporte contenha valor histórico ou cultural. Evitando nesse momento qualquer tipo de apologia à pichação, é importante que se perceba o fenômeno de forma imparcial para notar que a pichação, apesar de ser uma atividade ilegal, é um movimento independente que os indivíduos atuam de forma a construir e decidir conscientemente as suas ações. O pichador propõe um novo significado para o local, ele transforma a cidade com suas escrituras.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

ESPAÇO URBANO


Espaço Urbano
O grafite, por ser feito sobre um suporte urbano repleto de signos da comunicação de massa, está em inevitável diálogo com todos esses signos e com o entorno. São cartazes, placas de trânsito, placas de pedestre, adesivos, painéis luminosos, outdoors, bus-doors, e uma infinidade de dizeres e imagens que surgem freneticamente no percorrer uma grande avenida . O que alguns consideram “poluição visual”pode ser visto como uma grande diversidade de signos lingüísticos em uma subliminar comunicação do espaço urbano - uma "cidade polifônica".A cidade polifônica significa que a cidade em geral e a comunicação urbana em particular comparam-se a um coro que canta com uma multiplicidade de outras vozes, que isolam-se ou se contrastam.O grafite constitui uma dessas vozes e, por isso, deve ser cartografado na estética urbana para que o diálogo com o entorno seja audível. Se inserido em uma galeria de arte, o grafite é mutilado em seu poder de comunicação quando limitado a conter toda sua significação em si mesmo. Na situação urbana esse deslocamento é impensável e irreal, pois, quando a paisagem urbana cede espaço a essa intervenção visual, há uma simbiose de signos que geram um todo reinterpretável.


Observando o grafite como um "detalhe da paisagem urbana", sua leitura é condicionada ao seu entorno, uma vez que esse grafite está impregnado em uma parede, em uma rua, em um bairro, em uma cidade. Deslocar física e temporalmente esse objeto fragmenta sua relação com o todo no qual foi concebido, minando a sua significação. O desenho grafitado só se torna um grafite quando em relação com a cidade.O grafite comunica-se com a sociedade que habita a cidade, por vezes de forma subliminar, ao participar da paisagem urbana. O viver a cidade passa por sua estética marcada por conotações subjetivas, em um diálogo íntimo e individual entre o sujeito e o meio pelo qual é circundado. O grafite, percebido como um signo da cidade, exposto a todos de forma autoritária por surgir unicamente pela vontade de quem o produz, se insere no processo de diálogo com o "urbanóide", dialogo este que se estabelece de duas maneiras: a primeira, ao constituir uma mensagem legível, proposta por alguém, e compreendida em sua totalidade pelo receptor; a segunda, ao caracterizar antes a existência de seu proponente, a marca do autor ali presente, visível, mesmo que ilegível.
Essa leitura é dotada de um nível variável de ruído, através do qual a mensagem é munida de uma relação intersubjetiva com seu leitor. Para a rede que grafita, a leitura é feita diferentemente do que para o desavisado morador apressado, possibilitando as diversas e esperadas compreensões de um produto visual. O certo é que existe o estabelecimento de uma "cadeia comunicativa" entre o grafite, o grafiteiro, o morador da cidade e o entorno. No que tange ao entorno, à rua da cidade, o grafite se agrega em um entrelaçamento de re-significação. Ele deixa de ser obra em si mesmo, até porque não é pensado para isso, e funde-se nos níveis significativos da paisagem urbana. O ruído agora não está mais nas diferentes linguagens, e, sim, nas folhas da árvore que se debruçam sobre a parede, nos fungos que absorveram a tinta perto do chão, no cartaz colado sobre o muro grafitado, nas ranhuras da porta que foi incorporada ao desenho. O próprio movimento do passante, que vê o grafite de forma rápida, já acusa uma leitura do que salta aos olhos. O ritmo da cidade, o semáforo, a parada de ônibus, são formas de regrar tempos diferentes de exposição do morador frente a paisagem em que se insere o grafite. E não é de se esperar que ele esteja especialmente atento, que venha a caçar e decifrar mensagens oferecidas pela paisagem urbana.
Quando se trata de entender uma pichação, o uso de um código lingüístico secreto, que não é compartilhado pela população em geral devido a sua grafia, torna praticamente impossível ler os nomes e siglas expostos nas paredes da cidade. Excluindo grafiteiros, pichadores e curiosos em geral pela escrita urbana, a leitura compreensiva desses signos passa despercebida, sendo eles vistos, mas não entendidos. É de se pensar que a sua significação para a população não seja desejada por parte do proponente da obra, sendo esta importante apenas para a tribo que grafita e confere valor a tal ousadia.
No piche é feita a marca registrada de alguém, a tag, a representação de si mesmo. Nele,
O que o escritor anônimo quer comunicar não são palavras, mas, sim, a sua presença fantasmática, que pode atingir o alvo quando e onde queira, nas cornijas mais altas, nos edifícios mais elegantes, nas perspectivas mais vertiginosas. Porque o sentido do discurso consiste tão-somente em atestar a existência anônima, a abstrata presença das pichações árabe-góticas.
Antes de comunicar uma mensagem, a exposição da intervenção visual caracteriza seu autor, não importa com que técnica visual. É a marca de uma pessoa, de um grupo, da existência de alguém, de muitos desconhecidos que são vistos por toda a cidade. O fato de já serem vistos é suficiente para que continuem as exposições de suas marcas na apropriação do ambiente em que vivem.
Esse ensaio não pretende ser conclusivo, e sim, integrante de um processo compreensivo desse complexo objeto de estudo. Grafite e grafiteiros são inevitavelmente, proposições generalistas, através das quais foram abarcadas nuances muito diversas da expressão visual dos moradores nas paredes da cidade. Quanto ao grafite como forma de comunicação visual, reitero uma frase escrita páginas acima. "O desenho grafitado só se torna um grafite quando em relação com a cidade", esse quesito indispensável ao ato da grafitagem, pode ser considerado o fator de coesão na tribo estudada, único e indispensável. Público, o grafite é da rua. O ser visto nas paredes da cidade, insere a tag, a marca, a pessoa, no imaginário de quem lê estas expressões urbanas.

segunda-feira, 11 de maio de 2009



O senso comum costuma confundir pichação e grafite. A primeira, entretanto,parece permanecer em um nível de confrontação violenta e provocação da autoridade, semqualquer pretensão artística. Insere-se em uma espécie de jogo, com dois desafios a seremvencidos, um interno outro externo ao grupo dos pichadores: deixar sua marca no lugar demais difícil acesso, seja pela topografia, seja pela vigilância ou proibição de acesso, e não ser pego pela polícia ou vigilância. Quem vence esses desafios é respeitado e legitimado como participante do grupo. Enquanto o pichador quer ser conhecido apenas dentro de seu grupo, o grafiteiro almeja visibilidade e reconhecimento como artista pela sociedade. Um ponto comum que permanece entre pichação e grafite é a assinatura pessoal, chamada de tag. Esse é a marca registrada, o sinal de autoria da obra, e todo grafiteiro ou pichador tem o seu. A preparação do muro ou parede a ser graffitado é específica, geralmente é feita uma base em tinta acrílica, branca ou colorida, utilizando rolo de pintura, sobre a qual é feito o desenho com o spray. Contudo, o grafite utiliza outras técnicas, como o pincel e o rolo, o estêncil.
Na década de 1970 os metrôs e trens metropolitanos, que circulam grafitados pelas
metrópoles, dão a mobilidade que era inexistente em um painel feito em um muro de rua.

Contudo, com a expansão da cultura Hip - Hop, sua divulgação pela mídia, houve uma
incorporação, um modismo, que retira parcialmente as características de transgressão e protesto iniciais do movimento. Percebe-se, nas declarações dos grafiteiros, uma certa dubiedade entre o desejo de visibilidade de sua arte e a “traição ao movimento”, como compromisso ético em não se deixar seduzir por alguma proposta comercial, banalizante e simplesmente formalizadora da arte do grafite. De fato, o grafite, enquanto movimento social e artístico, cruza o território marginal em direção à institucionalidade, às vezes como forma de inserção social ou como simples fetichização. O mesmo que ocorre com os movimentos alternativos, aos poucos absorvidos como moda e incorporados à lógica do mercado.
Ao mesmo tempo em que demonstra um sentimento de pertença ao movimento, ao manter o espírito maldito da rebeldia, da contestação, e de liberdade de expressão, os grafiteiros tem que se submeter à divulgação da mídia, das imposições do mercado, do estabelecimento do museu, a arte consagrada. Outro aspecto é o da sobrevivência dos grafiteiros, o que os leva, muitas vezes, a trabalhar em outras atividades, como a de propaganda. De fato, o trânsito entre diversas áreas faz parte do contexto da arte contemporânea. Inúmeras atividades vêm sendo desenvolvidas, por exemplo, nas de áreas de marketing, design e animação virtual, revistas em quadrinhos envolvendo profissionais que se utilizam de diversas mídias, e por isso mesmo, chamados de artistas multimídia.



Grafite é a forma artística que expressa e muda a concepção estética urbana. Surgiu na época das cavernas, quando os homens desenhavam nas pedras símbolos, signos, figuras de animais, armas, etc., como forma de comunicação.Com o passar dos anos, transformou-se em arte. Mais recentemente, ganhou conotações política e social, sendo, os grafites ou caligrafites, executados à mão livre, de forma rápida, por motivo de repressão policial.NOTA-SE QUE OS MUROS DA CIDADE JÁ COMEÇARAM A TOMAR FORMA S COM INTERVENÇÕES ARTISTICAS.

As cidades também começaram a mudar visualmente com o colorido dos grafites multicoloridos, trocando sua vestimenta acinzentada e suja por belos desenhos coloridos.Como num trabalho de formigas, tentando escapulir do perigo, na calada da noite os artistas “pintam” as cidades. E ao amanhecer, os cidadãos podem vê-las, literalmente, com outros olhos: cheios de festa, alegria, diversão e arte.Caligrafite e pichaçãoO caligrafite surgiu como a forma de expressão escrita na “crista da onda” de marcas ou turmas, não passando de imitações novaiorquinas dos anos 80 nas invasões dos mêtros.Pichação é a forma de expressão de turmas codificadas, aleatoriamente, sem compromisso com a sociedade ou com a comunidade. É utilizada apenas para demarcação de territórios, onde as disputas são os pontos mais altos e de acesso mais difícil, ponde em risco muitas vezes a vida do pichador.

sexta-feira, 1 de maio de 2009


O problema da pichação nas escolas relaciona-se diretamente com os problemas de fracasso escolar e delinqüência juvenil. Os pichadores são estigmatizados pela sociedade em geral como vândalos, jovens rebeldes que agridem tanto a propriedade privada como o patrimônio público e dão gastos seja aos governos ou às direções de escola. Aquilo que se chama de vandalismo ou – mais propriamente – depredação, não é um ato desprovido de um significado político, nele está contido um discurso de alto teor contestatório, baseado na estética da destruição aparente, do uso mutante dos espaços públicos, ou seja, da re-elaboração da ordem social.

A destruição é também simbólica, já que o alvo não é a escola em si, mas a sociedade excludente que a constrói. Ela consiste em transformar as paredes circundantes da quadra esportiva da escola em suporte para a elaboração, pelos alunos, de trabalhos com a técnica da arte grafite. O objetivo da atividade era abrir um espaço para que os alunos e a comunidade expressassem suas opiniões a respeito da nossa realidade atual .Outra motivação do projeto é a intenção de afirmar a abertura do espaço escolar como lugar de manifestação cultural, através do reconhecimento explícito do grafite como linguagem artística. Neste aspecto contamos com a valorosa participação de um pesquisador da área. A intervenção artística, sobretudo a linguagem da arte grafite, caiu como uma luva em nossa escola, para evitar que os alunos comecem sua depredação: o grafiteiro não faz mais pichações.
Ele abandona o exibicionismo do desafio de repetir uma mensagem cifrada, entendida por um número limitado de leitores, para se dedicar ao desafio de criar sempre novas possibilidades de representação do mundo, acessíveis a todos aqueles leitores que se interessarem por suas mensagens.
O grafite é diferente de pichação. Na verdade o primeiro poderia abranger o segundo no sentido que pichadores são artistas em potencial. O grafite é algo legal e legalizado. Ultimamente tem se dado um contínuo processo de legitimação do grafite enquanto expressão artística e enquanto canal de diálogo e resgate de uma juventude supostamente perdida. Entendido como uma manifestação artística da urbanidade contemporânea, o grafite traz em si atributos da ordem do belo, associados a uma estética, que vem sendo incorporada à cidade.
O movimento traz no bojo da sua discussão a mobilização comunitária e a valorização pública e popular da arte. Além disso, a arte grafite vem se apresentando também como um mercado de trabalho para aqueles que desenvolvem a técnica e participam da busca pela ampliação do alcance de suas imagens assim como pela legitimação enquanto arte das mesmas.
Não basta encontrar e incorporar passivamente novos meios de comunicação para realizar uma prática pedagógica calcada no diálogo. Para isso, é necessário muito cuidado para não continuar, quase mecanicamente, com a transmissão de determinados conteúdos, consagrados pela força da tradição. Precisamos construir um espaço onde o aluno se sinta reconhecido como produtor de cultura, mesmo que disso não tenha consciência.